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As ações afirmativas das empresas pela igualdade racial

21/11/2012

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Seminário do Ethos mostra a situação atual da diversidade racial no mercado de trabalho e faz um balanço das ações do governo e das empresas no país.

Por Jorge Abrahão*

Ontem, 20 de novembro, comemorou-se o Dia da Consciência Negra e hoje o Instituto Ethos está realizando um seminário de balanço das ações afirmativas das empresas pela igualdade racial, durante o qual também serão discutidas as iniciativas de governos que ajudam a tornar mais equânime a situação dos negros e das negras na sociedade brasileira. Apesar de reconhecer que ainda há muito por fazer, houve avanços significativos e as empresas tiveram um papel importante nesse progresso. Vamos comentar esse quadro agora.

Programa de ações afirmativas

O governo federal deve lançar ainda esta semana um programa de ações afirmativas que, entre outras iniciativas, vai incluir a adoção de cotas para negros no funcionalismo federal e a criação de incentivos fiscais para empresas privadas que fixarem vagas de trabalho para negros.

De fato, o mercado de trabalho ainda é um ponto crítico para a superação das desigualdades étnicas existentes no Brasil. Se o país vem caminhando para superá-las em outros setores, como o da educação, no campo do emprego a igualdade anda a passos mais lentos.

Um trabalho sobre a inserção do negro no mercado de trabalho realizado em 2010 pelo Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostra que a população negra predomina na população brasileira, é mais jovem, tem mais filhos, é mais pobre e está mais exposta à mortalidade por causas externas, especialmente homicídios.

Nos últimos anos, com as políticas compensatórias, houve ascensão social. De acordo com a última Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio (Pnad), são negros 80% dos mais de 40 milhões de brasileiros que ascenderam à classe C. Nas universidades, eles são 921 mil entre 3,5 milhões de estudantes. Uma porcentagem pequena se comparada ao total de universitários, mas já grande o suficiente para fazer diferença no mercado de trabalho. E como este se comporta em relação à inclusão de negros?

A pesquisa de 2010 do Dieese mostra que os negros predominam no setor agrícola (61,5%), na construção civil (60,1%), nos serviços domésticos (61,8%) e em atividades mal definidas (73%). Ou seja, mesmo com o avanço social e educacional, os negros ainda não têm oportunidade de ocupar posições mais qualificadas em setores de ponta da economia brasileira. Isso acaba por refletir na remuneração. Em termos salariais, o rendimento médio do homem negro ainda é metade do recebe o homem branco. A mulher negra está mais abaixo nessa escala: sua remuneração equivale, em média, a 30% do salário do homem branco e à metade do rendimento da mulher branca.

Nas empresas, a edição de 2010 da pesquisa Ethos-Ibope Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil e Suas Ações Afirmativas mostra variação positiva na ocupação de cargos por negros e por negras, mas ainda aquém da participação deles no total da população brasileira.

Nos quadros funcionais, entre 2003 e 2010 a participação de negros ampliou-se de 23,4% para 31,1%. Nos cargos de supervisão, a evolução foi de 13,5% para 25,6%. No âmbito gerencial, a participação subiu de 8,8% para 13,2%. Entre os executivos, a proporção variou de 2,6% para 5,3%.

No que tange aos salários, um homem negro ganha 30% menos do que um branco para executar as mesmas tarefas.

Mas, afinal, qual é a influência da raça na sociedade?

Uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com 15 mil famílias em cinco Estados brasileiros e no Distrito Federal mostrou que 63,7% dos entrevistados acreditam que a raça influencia na vida de uma pessoa. Entre as situações nas quais a cor ou raça tem maior influência, o trabalho aparece em primeiro lugar entre as pessoas entrevistadas, com 71% das respostas. Logo em seguida, os brasileiros apontaram que a cor ou raça interfere “na relação com a Justiça ou a polícia”, citada por 68,3% dos entrevistados. Para 65%, esse fator também interfere no convívio social e, para 59,3%, cor e raça são fatores que atuam na maneira como as pessoas agem nas escolas.

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) também apurou que os jovens negros são os que mais morrem em razão da violência – 50% dos óbitos entre homens negros até 30 anos são decorrentes de homicídios. Entre os brancos, essa porcentagem é de 35%.

É alto o custo da desigualdade racial: levando-se em conta acesso a educação, saneamento e habitação, o professor Mário Theodoro, da Universidade de Brasília, calculou que o Brasil precisa de R$ 67 bilhões para equiparar negros e brancos num prazo curto, um volume de recursos que o Estado brasileiro tem condições de arcar, pois representava, em 2006, ano desse cálculo, oito meses de pagamento dos juros da dívida pública.

O que fazer?

O enfrentamento dessa questão depende de ações articuladas entre a sociedade civil, as empresas e as diversas instâncias de governo. Os governos estão fazendo a parte deles, com a aprovação de políticas afirmativas e regulações em diversas áreas, embora ainda falte harmonização entre iniciativas federais e estaduais. As empresas podem avançar mais e, por meio de suas ações, tornarem-se protagonistas da valorização da diversidade no mercado de trabalho.

Em 2006, o Instituto Ethos lançou a publicação O Compromisso das Empresas com a Promoção da Igualdade Racial, na qual recomenda alguns passos para a promoção da igualdade racial, tais como:

  • sensibilização de todos os funcionários para a questão;
  • realização de um censo interno, para verificar a realidade da empresa;
  • abertura de fóruns de diálogo para abordar os dilemas; e
  • estabelecimento de comitês e cursos sobre diversidade.

Para orientar na realização do censo interno, o Instituto Ethos disponibiliza também a publicação Diversidade e Equidade: Metodologia para Censo nas Empresas, lançada em 2008.

Ao conhecer a situação da empresa quanto à diversidade étnica, será possível elaborar e adotar um plano de ação com metas e prazos para que, num período de tempo considerado adequado pela companhia, aumente o número de profissionais negros e negras ocupando cargos nos diversos níveis hierárquicos.

Caso concreto

O Banco Itaú assumiu a responsabilidade de criar oportunidades iguais para todos valorizando o talento de cada um. Por meio do seu Programa de Diversidade, busca promover um ambiente de trabalho inclusivo, investindo na atração e na retenção de profissionais. Por meio do Programa Raízes, contribui para o desenvolvimento da cidadania e capacitação profissional de jovens negros, além de prepará-los para assumir diferentes funções nas áreas de negócios. O índice de efetivação dos estagiários desse programa supera os 60%.

O Itaú também dispõe de uma Política de Diversidade que está integrada ao planejamento estratégico da instituição e é regularmente divulgada entre todos os funcionários e partes interessadas.

* Jorge Abrahão é presidente do Instituto Ethos.

Legenda da foto: Trabalho do fotógrafo Januário Garcia, importante militante do movimento negro brasileiro, que gentilmente cedeu imagens para serem usadas no seminário.

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