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CONFERÊNCIA ETHOS 360°

Os pontos de partida para um “pluriálogo”

27/06/2016

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Unir segmentos sociais para edificar vias que façam emergir o novo e a transformação do Brasil em um lugar melhor, criar uma agenda comum e cumprir compromissos firmados coletivamente: essas foram algumas das soluções defendidas pelo Instituto Ethos, na iniciativa propositiva do “pluriálogo”, para tirar o país da agitação pela qual passa atualmente. Na primeira edição da Conferência Ethos 360° no Rio de Janeiro, dedicamos uma mesa ao debate do tema, com Tania Almeida, diretora-presidente do Mediare, Andre Degenszajn, secretário-geral do Gife, e Ricardo Abramovay, professor da Universidade de São Paulo (USP).

Expressão, escuta e diferenças
Para Tania Almeida, precisamos nos distanciar cada vez mais do mundo da barganha e nos aproximar da negociação por interesses. Ela defende três premissas para o diálogo: encorajar a expressão, estimular a escuta e apreciar as diferenças. As ações da União Europeia são um grande exemplo da integração de multipartes, já que buscam construir consensos, não uniformizando ideias, mas contemplando as diferenças de forma harmonizada. “Privilegiamos as ideias, aderimos a elas. Olhamos para o interesse comum. Não preciso convidar ninguém para pensar o que eu penso, desde que tenhamos um interesse em comum”, afirma Tania, que vê o “pluriálogo” resultando em uma agenda positiva ao Brasil, em que os interlocutores olham para os interesses comuns, identificam uma sinergia entre todas as propostas e desenvolvem ações a partir disso.

Reforma política é consonante
Andre Degenszajn compartilhou suas experiências como secretário-geral de uma associação, o Gife, atendendo a demandas que requerem um tratamento especial a processos com a participação de diferentes partes. Para ele, nosso maior desafio é fazer as diferenças funcionarem. Não é questão de construir um consenso, mas de permitir que a diversidade de opiniões se expresse dentro um mesmo campo. “O interesse comum não é resultado da soma dos interesses individuais”, pontua. O “pluriálogo” responde a uma ansiedade com a qual estamos lidando em relação ao momento que vivemos. Apesar de haver um baixo grau de coordenação, a multiplicidade de posições e a dificuldade de identificar atores, valores e princípios são latentes e explícitos, como em junho de 2013. A iniciativa propositiva é agregadora, entretanto, precisa considerar a dinâmica de hoje, difusa. O desafio que se põe, então, é solidificar as bases de um processo que incorpore isso. Andre defende que a reforma política é consonante hoje, entre os temas que nos mobilizam. Precisamos aproveitá-la como ponto concordante e criar mecanismos para articular partes, estabelecendo valores que sirvam de norte. Ao olhar para os sujeitos que construíram e operam o sistema político atual, é difícil acreditar que a mudança venha daí. Conseguir mudar as regras do jogo trazendo novos atores, portanto, é fundamental.

Por onde, por que e por quem devemos crescer?
Ricardo Abramovay afirma haver uma tensão entre a necessidade de o diálogo escapar da polarização e, ao mesmo tempo, de saber para onde queremos ir — não de onde temos de que ir, pois não há um caminho único. A retomada do desenvolvimento econômico é fundamental, mas ela, sozinha, não nos diz intuitivamente para onde, para que e para quem queremos crescer. O crescimento econômico deve ser um meio, o fim é a sustentabilidade.

O Brasil passou por um processo de reprimarização da economia, o que é grave, já que nosso relacionamento com o mundo não se dá por inteligência, e sim pelo potencial de extrair produtos minerais e agrícolas. O país perdeu dez pontos no Atlas da Complexidade Econômica de Harvard. No momento em que a China aumenta nove vezes o custo da mão de obra, aqui se pensa o contrário. Outro problema que o mundo todo enfrenta é a desindustrialização. Serviços de excelência dependem de indústrias de qualidade e não são muito os lugares que se beneficiam disso (é o caso do Brasil). “Quando desindustralizamos sem um setor de serviço de qualidade, o resultado é que ficamos dependente apenas daquilo que sabemos fazer. E não tenho visto no meio empresarial uma preocupação crucial, estratégica, com a inovação”, diz Abramovay. Segundo ele, infraestrutura, superação das desigualdades e políticas urbanas também devem necessariamente ser prioridade nos diálogos sobre crescimento.

A Coalizão Brasil, Clima, Florestas, Agricultura é um exemplo de “pluriálogo”. O projeto demonstra a capacidade e a produtividade de agregar atores diversos em torno de uma agenda única. Entretanto, deve-se ter cautela para o diálogo não partir de um mínimo denominador comum.

Os paradigmas mudam, no limite da insuficiência. Está claro que o Brasil precisa passar por grandes transformações. Mas elas não se darão do dia para a noite. Trata-se de processos, e não de eventos. E nós somos fundamentais para eles saírem do plano das ideias.

 

Por Felipe Saboya, do Instituto Ethos.

Foto: Gabriela Carrera

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