NOTÍCIAS

Direitos Humanos
Institucional
Gestao Responsavel
Integridade
Ambiental

ETHOS

Constituição desrespeitada

02/02/2015

Compartilhar

É fundamental que no currículo escolar sejam incluídos conhecimentos e informações que preparem os alunos para exercer a cidadania.     

Por Oded Grajew*

Está no artigo 205 da Constituição Federal: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.

Se a cidadania é o exercício dos direitos civis, políticos e sociais – e exercê-la é ter consciência de seus direitos e obrigações e lutar para que sejam colocados em prática –, é fundamental que no currículo escolar, de acordo com a capacidade de compreensão de cada faixa etária, sejam incluídos conhecimentos e informações que preparem os alunos para exercer a cidadania.

Exemplo disso é estimulá-los a conhecer os principais capítulos da Constituição Federal e as leis mais importantes do Estado e do município onde se localiza a escola. Para participar da vida social e política da comunidade, é importante ter acesso aos indicadores sociais, econômicos e ambientais e aos principais itens dos orçamentos do país, do Estado e da cidade.

Para poder lutar pelos direitos, é necessário conhecer os caminhos e as formas de participação. Exercitar o uso da Lei de Acesso à Informação, assistir e participar de algumas audiências públicas, conhecer formas de engajamento nos partidos políticos, ONGs, movimentos sociais, sindicatos, associações de bairro, nas redes sociais, a que órgãos e instâncias de sua cidade recorrer para garantir seus direitos. Registrar e acompanhar as principais promessas dos políticos eleitos.

É fundamental colocar o debate da ética em sala de aula para que haja maior consciência das obrigações e balizar a qualificação para o trabalho. Pessoas altamente graduadas, mas sem princípios e valores éticos, já causaram enormes danos à humanidade e ao nosso país.

Nas notícias de escândalos, aparecem muitas pessoas oriundas das consideradas “melhores escolas e universidades”. Na formação básica, os professores necessitam preparar seus alunos para serem menos manipuláveis, estimulando-os a desenvolver espírito crítico e a pensar, a refletir e a analisar.

Sabemos que a primeira medida de qualquer ditadura é cercear a informação aos cidadãos sobre seus direitos e sobre o que faz o governo, dificultando qualquer participação. Governos democráticos fazem o contrário: abrem as informações, estimulam a participação e educam para o exercício da cidadania.

Pela minha experiência, poucos jovens (e até professores e pais) conhecem minimamente sua própria cidade ou já visitaram a Câmara Municipal. Como podem participar de forma efetiva nos destinos da cidade? Se quisermos ser uma pátria educadora, temos de nos fazer a pergunta básica: educadora para quê? Qual é a função da educação?

Somos e seremos, como nação, como comunidade, o resultado da qualidade da educação que recebemos. Será que as escolas da sua cidade e a de seus filhos cumprem a Constituição Federal e adotam um currículo que prepara seus alunos para o exercício da cidadania?

* Oded Grajew é presidente emérito do Instituto Ethos e coordenador-geral da Rede Nossa São Paulo.

Artigo publicado originalmente no jornal Folha de S.Paulo, em 1º de fevereiro de 2015.

Usamos cookies para que você possa ter uma boa experiência ao navegar.
Ao usar o site você concorda com o uso de cookies.
Para mais informações, por favor veja nossa Declaração de Privacidade.

CONTATO

© 2016-2021 Instituto Ethos - Todos os direitos reservados.

Usamos ResponsiveVoice - NonCommercial para converter texto para fala.