NOTÍCIAS

Direitos Humanos
Institucional
Gestao Responsavel
Integridade
Ambiental

ETHOS INTEGRIDADE

Delações premiadas e acordos de leniência em evidência

Casos de corrupção elevam uso de mecanismos de prevenção e controle, mas como fica a busca pela integridade nas empresas?

26/05/2017

Compartilhar

Neste momento em que o país vivencia os impactos de diversas delações e acordos de leniência se faz necessário entender como as relações público-privadas devem ser transformadas de forma a evitar situações como as que temos acompanhado pelo noticiário.

A experiência e, principalmente, a postura adotada por quem já enfrentou este desafio é o que trazemos nesta entrevista com o diretor de Compliance da Siemens do Brasil, Reynaldo Goto.

Ethos: A postura da Siemens frente aos casos de corrupção corporativa ocorrido em diversos países é considerada um marco na história da ética corporativa e da integridade nas empresas. Além disso, aqui no Brasil, em 2013, a empresa delatou ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) a existência de um cartel em licitações do metrô de São Paulo, do qual ela mesma fazia parte. Quais os principais aprendizados em relação a estes episódios?
Reynaldo Goto: A empresa passou por uma grande crise em 15 de novembro de 2006, com o processo de busca e apreensão ocorrido na Alemanha. Prontamente quatro atitudes foram importantes para superação daquele momento: reconhecer, colaborar com as autoridades, afastar pessoas envolvidas e investir fortemente no sistema de compliance. No caso ocorrido aqui no Brasil levamos à luz das autoridades brasileiras práticas na área da mobilidade que identificamos como não íntegras. Não foi um processo simples e não nos orgulhamos desta fase. O principal aprendizado foi a implantação de um sistema interno de integridade que se baseia em três grandes pilares: prevenção, detecção e resposta adequada para qualquer infração.

Ethos: Neste momento em que observamos as várias delações e acordos de leniência em casos de corrupção, o que é possível destacar como benefício e oportunidade?
Reynaldo Goto: As pessoas e empresas que fazem delações e acordos de leniência têm como benefício a redução de suas penalidades e menor valor das multas, respectivamente. Mas, me preocupa a banalização destes recursos. Não adianta fazer a delação sem um entendimento disso e de uma real mudança de postura. O primeiro passo é reconhecer a verdade. Identificar os erros cometidos e buscar se adequar. Posteriormente, os mecanismos são válidos tanto para redução de penas, quanto a multa. Mecanismos estes que são reconhecidos internacionalmente e ajudam inclusive a identificar novos atores envolvidos e nas investigações como um todo.

Ethos: A Siemens ainda sofre os desdobramentos daquelas posturas do passado?
Reynaldo Goto: Esporadicamente quando há assuntos neste sentido somos lembrados, o que traz certo desgaste. Não pelas medidas que tomamos e das quais não temos dúvidas terem sido assertivas, mas são questões que demoram muito tempo para serem superadas definitivamente. Por mais que as multas sejam pagas e que não tenhamos mais nenhuma das pessoas envolvidas na empresa, a cobrança é ainda maior e temos que explicitar nossas práticas constantemente.

Ethos: Quais foram as estratégias para reverter a postura e melhorar a reputação da empresa?
Reynaldo Goto: A principal estratégia é agir em concordância com o que se prega. Não adianta apenas dizer que mudou, que tem um código de conduta bem estruturado. A sociedade só percebe a mudança se ela de fato se traduzir em ações.

Ethos: É difícil seguir as normas de compliance em função de como são as relações público-privadas no Brasil?
Reynaldo Goto: Não, pelo contrário. O difícil é não ter transparência e segurança. O difícil é ter um jogo de cartas marcadas, sem regras transparentes. Agir em acordo com o compliance torna a vida do executivo bem mais fácil.

Ethos: Os Acordos Setoriais seriam uma outra estratégia para garantir a integridade nas empresas?
Reynaldo Goto: Os acordos têm que ser entendidos como um diálogo aberto para observar os riscos em um mercado comum. A mudança depende da postura de cada executivo. Os acordos são importantes para a identificação de riscos, implementação de atividades comuns e etc.

Ethos: Quais os próximos passos para a ampliação dos Acordos Setoriais?
Reynaldo Goto: Depende da mobilização de cada umas das indústrias. O Ethos tem um papel importante no tema como fomentador de boas práticas e também na questão conceitual destas medidas. Outro ponto que cabe discutirmos é o apoio financeiro para estas iniciativas. Para onde vai o dinheiro destas multas milionárias que estão sendo pagas? O óbvio seria destiná-lo para a parte lesada, mas em muitos casos este dinheiro volta para o governo, que por vezes está envolvido na situação. Algo como uma retroalimentação do sistema. O que estamos discutindo junto ao Ethos nos encontros do Grupo de Trabalho do Pacto Empresarial pela Integridade e contra a Corrupção é que uma parte destes recursos sejam destinados para projetos e ações coletivas relacionadas ao tema.

Por Rejane Romano, do Instituto Ethos

Usamos cookies para que você possa ter uma boa experiência ao navegar.
Ao usar o site você concorda com o uso de cookies.
Para mais informações, por favor veja nossa Declaração de Privacidade.

CONTATO

© 2016-2021 Instituto Ethos - Todos os direitos reservados.

Usamos ResponsiveVoice - NonCommercial para converter texto para fala.