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"O Brasil está projetando duas imagens para o mundo"

16/08/2017

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Huguette Labelle comenta cenário brasileiro

Huguette Labelle, ex-presidente da Transparência Internacional e líder pública canadense, cedeu entrevista ao Instituto Ethos analisando o cenário brasileiro de combate à corrupção e o papel das empresas neste processo. Confira a entrevista completa abaixo.

Como está a agenda de transparência e corrupção na atualidade?
Huguette: O clima político está muito confuso neste momento, o que é difícil para a transparência e a luta contra a corrupção. Em vários países, governos autoritários tentam ou conseguem reverter os avanços em transparência e abertura, enquanto pressionam pela redução de uma série de direitos civis. Muitas vezes, os interesses alcançados estão intimamente ligados a líderes irresponsáveis ​​e autoritários, tornando desafiador realizar trabalhos anticorrupção.

No entanto, há muito a aproveitar e progredir. Ainda há vários líderes governamentais e alguns recém-eleitos que lideram melhores práticas. Esses países geralmente possuem sistema de justiça que funciona bem e operam de forma transparente e aberta. O movimento anticorrupção avançou muito: antes líderes governamentais e instituições internacionais ficavam inquietos ao enfrentar a corrupção e empresas podiam deduzir pagamentos de suborno no exterior sobre suas declarações fiscais.

Além disso, tivemos duas décadas de melhorias em leis, regulações e, em alguns casos, sua adequada aplicação. Acima de tudo, as pessoas querem que a corrupção seja endereçada. Vemos a incrível reverberação desta questão nas pesquisas de opinião e nas manifestações de rua. A corrupção é atualmente uma constante na agenda pública. Aqueles governos que não estão lidando com esta questão estão perdendo a confiança de seus cidadãos com um impacto devastador sobre sua capacidade de governar.

Como você vê o Brasil neste momento?
Huguette: O Brasil, quinto maior país do mundo em termos de população e território e membro do G20, continua tendo papel-chave para a nossa situação global.  Neste momento, o Brasil está projetando duas imagens para o mundo. De um lado está a escala sem precedentes de escândalos de corrupção sendo revelados, atingindo os mais altos níveis do poder político e econômico e envolvendo enormes quantidades de dinheiro, demonstrando como a corrupção pode se tornar sistêmica em um país.

Do lado oposto estão as realizações extraordinárias da Operação Lava Jato e outras investigações abertas, procedimentos judiciais e melhorias na transparência que estão projetando para o mundo a imagem de um país que está enfrentando esse problema com seriedade e competência.  O Brasil parece estar em uma situação delicada entre permitir que os poderosos boicotem o trabalho anticorrupção que está sendo realizado ou perseverando com esse ímpeto extraordinário na luta contra a corrupção e aprovando medidas para enfrentar as causas sistêmicas do problema.  Cabe à sociedade brasileira escolher qual caminho seguir. O povo brasileiro já fez sua escolha com a esperança de ver o país colhendo os frutos de seus atuais esforços.

Qual o papel do setor privado nessa agenda?
Huguette: As empresas sempre foram um ator crítico nas equações de corrupção e anticorrupção. É nos negócios que geralmente se originam o suborno ao setor público. Mas há muitas outras formas de corrupção que envolvem as empresas, até mesmo legais, seja a influência indevida do dinheiro na política, a colusão, a contratação injusta, a evasão fiscal ou a facilitação da corrupção e fluxos financeiros ilícitos. Nenhuma setor da economia está livre destas práticas.

No entanto, as empresas também se tornaram um aliado fundamental em várias mudanças importantes em políticas públicas, como os recentes esforços para promover a transparência do beneficiário final, que foram desenvolvidos pelas empresas e pela sociedade civil trabalhando em conjunto.

Muitos líderes empresariais globais agora compreendem o custo da corrupção e implementam programas amplamente difundidos de combate à corrupção e de denúncia para garantir que a prevenção da corrupção seja melhorada. E diversos setores, como os de petróleo, gás até o da construção, trabalharam em padrões voluntários para melhorar a transparência e a prestação de contas nas sociedades em que operam.

Sempre haverá casos de corrupção que virão à tona no setor privado, a questão é como as empresas envolvidas e, em última análise, o sistema de justiça, vão lidar com eles. No final, ninguém quer trabalhar ou comprar de uma empresa corrupta.

 

Foto: World Economic Forum

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