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Relatórios integrados: uma nova dinâmica para a comunicação empresarial

08/04/2013

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A nova forma de integração de relatórios deverá impactar o modelo de gestão das empresas, provocando grande mudança em seu comportamento e atitudes.

No próximo dia 16 de abril, será lançada, em evento na sede da BM&F Bovespa, em São Paulo, a minuta da proposta de Estrutura Conceitual para Relatórios Integrados, que pretende ser a base das diretrizes internacionais para tais relatórios, que ficará disponível para consulta pública por três meses, a fim de receber comentários, sugestões e críticas de organizações e de pessoas interessadas. Na mesma data, eventos semelhantes serão realizados na África do Sul, na Alemanha, na Austrália, no Canadá, na China, nos Estados Unidos, na Índia, no Japão e no Reino Unido.

O documento a ser apresentado foi produzido pelo International Integrated Reporting Council (IIRC – Conselho Internacional para Relatórios Integrados), uma iniciativa da organização Accounting for Sustainability (A4S), liderada pelo Príncipe de Gales, do Reino Unido. O IIRC é formado por cerca de 40 especialistas de várias partes do mundo convidados pela A4S para desenvolver diretrizes para relatórios integrados de alcance internacional, auxiliados por grupos de trabalho.

O grande objetivo do IIRC é incentivar as empresas de todo o mundo a adotar um padrão de relatórios que concilie seus dados contábeis e financeiros com sua atuação relacionada aos aspectos socioambientais e com suas práticas de gestão e governança.

“A ideia não é ter um relatório único com todas essas informações. Os relatórios específicos atuais devem continuar a existir, com o jargão próprio de cada um. Mas seus dados precisam ser apresentados de forma harmônica e coerente entre si”, afirmou, em entrevista ao Instituto Ethos, o professor Nelson Carvalho, da FEA-USP, que é um dos quatro especialistas brasileiros participantes do IIRC – os outros são Marco Geovanne Tobias da Silva, diretor de Participações da Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil (Previ), Roberto Pedote, vice-presidente de Finanças, Jurídico e Tecnologia da Informação da Natura, e Sandra Guerra, presidente do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).

“O ponto fundamental na premissa dos relatórios integrados é a necessidade que o setor empresarial e todos os seus protagonistas têm de informação consistente, robusta, contundente e confiável, que é o princípio de funcionamento dos processos de decisão”, informa Carvalho. “Estamos habituados há várias décadas com relatórios empresariais de natureza financeira. Nosso desafio mais recente tem sido adicionar à visão financeira os aspectos ambientais, sociais e de governança corporativa, base de sustentação dos relatórios integrados, cujo objetivo não é juntar esses relatórios fisicamente, mas integrá-los dentro de um conjunto de normas, de modo a assegurar que as informações sejam o mais coerentes e completas possível”, acrescenta.

De acordo com o professor, até o final da década de 1990 as demonstrações de resultado das empresas eram desacompanhadas de dados sobre seu desempenho socioambiental e de governança. Por essa época, criou-se o balanço social, como um ato de prestação de contas para suprir essa lacuna. “Constatou-se que era preciso parar de se preocupar apenas com o lucro líquido – o chamado bottom line. Surgiu então o conceito do triple bottom line, que, além do lucro, considera também as pessoas e o planeta”, lembra Carvalho.

Com base nesse tripé – profit, people e planet –, evoluiu-se para o relatório de sustentabilidade. “O problema é que alguns desses relatórios se transformaram numa peça de marketing, escrita apenas com o objetivo de vender uma imagem saudável e positiva da empresa”, diz o professor. “Tornaram-se assim um balanço que não bate, porque não tem passivos, apenas ativos.” Para ele, os dados dos relatórios financeiros precisam se coadunar com os que se extraem dos relatórios socioambientais e de governança: “É necessário haver um ponto de tangência nítido entre eles, uma ideia de causa e consequência entre medidas no campo financeiro e ações (ou a falta delas) nas áreas social, ambiental e de governança, um campo explicando o desempenho melhor ou pior dos outros”.

“Hoje esses relatórios não se conversam e acabam contando histórias diferentes sobre uma mesma empresa”, prossegue Carvalho. “O relatório de sustentabilidade de uma empresa pode afirmar que a relação com os funcionários é a de uma grande família, com excelentes benefícios, enquanto seu relatório financeiro aponta uma enorme provisão para atender a processos trabalhistas”, exemplifica.

Foi observando a evolução dos vários relatórios e a incongruência entre eles que, em 2009, o Príncipe de Gales, em sua iniciativa “A4S”, sugeriu que fossem criadas normas para que as empresas passassem a integrar as informações da área econômica com os dados sobre as questões sociais, ambientais e de gestão. Assim, no final daquele ano, foi formado o Comitê Internacional para Relatórios Integrados (que depois se transformaria em Conselho – o IIRC), cujas primeiras reuniões ocorreram em 2010. Para constituí-lo, foram convidados representantes de empresas, bancos, analistas de mercado, administradores de ativos financeiros e acadêmicos, além de contadores, auditores e organizações normatizadoras contábeis, como a International Accounting Standards Board (IASB) e a Financial Accounting Standards Board (FASB).

“O IIRC nunca teve a pretensão de tomar espaços já ocupados por organizações respeitáveis que tratam do tema, como a Global Reporting Initiative (GRI), a AccountAbility, a Transparency International e órgãos da ONU”, afirma Nelson Carvalho. “Ao contrário, todas essas entidades e outras foram convidadas a contribuir com o Conselho e várias delas, como a GRI, a Transparency International e a Business for Social Responsibility, participaram da formulação da estrutura conceitual para relatórios integrados, a partir da qual normas específicas serão desenvolvidas, discutidas com a sociedade e talvez implementadas.”

Programa-piloto

Em outubro de 2011, o IIRC lançou um programa-piloto para empresas e investidores, com o intuito de obter informações sobre o desenvolvimento e a aplicação prática de um protótipo da estrutura conceitual de relatórios integrados. Desde então, 88 empresas em todo o mundo estão participando desse programa, entre as quais as brasileiras AES Eletropaulo, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Natura, Petrobras e a empresa de consultoria Via Gutenberg.

Essas empresas estão enviando comentários nos cinco principais tópicos do protótipo: o modelo de negócio, os valores, os capitais (financeiro, de infraestrutura, humano, intelectual, natural e social), bem como a conectividade e a materialidade das informações. Tais comentários auxiliaram o Conselho na definição da minuta que será apresentada em 16 de abril.

Depois da audiência pública, que se encerra em 15 de julho de 2013, o IIRC terá até o final do ano para fazer uma análise e avaliação dos comentários e preparar a Versão 1.0 da proposta de estrutura conceitual. “A meta seguinte será apresentar o trabalho como proposta a ser acolhida talvez pela Organização das Nações Unidas, ou eventualmente pelos países do G20, para que eles encampem a ideia como algo positivo para suas sociedades nacionais e validem a iniciativa”, informa Carvalho.

De acordo com o professor, “o grande benefício dos relatórios integrados deverá ser seu impacto no modelo de gestão das empresas, provocando uma grande mudança em seu comportamento e em suas atitudes, indicando que a criação de valor e de riquezas não está desvinculada da criação de bem-estar para todas as partes interessadas”.

Por Benjamin Gonçalves (Instituto Ethos)

Na foto: Nelson Carvalho,  participante do International Integrated Reporting Council (IIRC).

 

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