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As conclusões do Fórum de Davos 2015

30/01/2015

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Entre as recomendações endereçadas pelo Fórum a governos e empresas, vale ressaltar a que sugere formas de combater a crescente desigualdade.

Por Jorge Abrahão*

O Fórum Econômico de Davos deste ano foi realizado entre os dias 23 e 25 de janeiro, nessa cidade suíça. O tema foi “O Novo Contexto Global”, dividido em dez desafios que o mundo enfrenta nos dias atuais: meio ambiente e escassez de recursos; competências e habilidades para o emprego e capital humano; equidade de gênero; investimento de longo prazo, infraestrutura e desenvolvimento; segurança alimentar e agricultura; comércio internacional e investimento; o futuro da internet; crime e corrupção globais; inclusão social; e a economia.

Para discutir esses temas, estiveram presentes mais de 1.500 líderes empresariais de 100 países, 40 chefes de governo ou de Estado, 14 pesquisadores e intelectuais que receberam o Prêmio Nobel e 800 representantes de órgãos públicos de governos e de organizações da sociedade civil.

Alguns dados interessantes:

– Apenas 17% dos participantes eram mulheres;

– A média de idade dos participantes foi de 53 anos para homens e 48 anos para mulheres;

Riscos globais

A base para as discussões foi o estudo Equilibre o Jogo: É Hora de Acabar com a Desigualdade Extrema (Even It up: Time to End Extreme Inequality), feito pela ONG inglesa Oxfam.

Na abertura do evento, o Fórum Econômico lançou o documento Global Risks 2015 (Riscos Globais 2015). Como nos anos anteriores, esse relatório é baseado em pesquisa sobre percepção de riscos numa comunidade de 900 executivos internacionais, membros do Fórum.

A publicação apresenta discussões aprofundadas sobre riscos decorrentes do ressurgimento da interligação econômica e do poder geopolítico, a rápida urbanização do mundo em desenvolvimento e as novas tecnologias.

De acordo com esse levantamento, a maior ameaça à estabilidade mundial nos próximos dez anos advém do risco de conflitos internacionais, principalmente conflitos entre países, com impactos regionais. Na avaliação dos executivos, esse risco de conflito é maior até que aquele representado por eventos climáticos extremos ou pelo desemprego alto.

Assim, o risco geopolítico, ausente do panorama das tendências globais apontadas por líderes empresariais na última década, aparece como o principal desafio para 2015 e anos seguintes. Conflitos podem ocorrer por meio de cyberataques, competição por recursos ou sanções e outras ferramentas econômicas.

Entre os recursos naturais apontados pelos executivos como potenciais causadores de conflitos, a água ocupa o primeiro lugar. Na verdade, para eles, a escassez hídrica pode engendrar a corrida para armas de destruição em massa e a rápida disseminação de doenças infecciosas, desafios também classificados entre os mais importantes a serem enfrentados pela comunidade global.

Outra questão muito discutida no Fórum foi a desigualdade social, que só aumentou nos últimos anos, segundo os dados da Oxfam, e que também está entre os potenciais causadores de conflitos geopolíticos.

Uma solução para a água

Na questão da água, o relatório Risco Global 2015 aponta que a população cresce duas vezes mais do que a disponibilidade de água potável. Nesse ritmo, em 2025 dois terços da humanidade estarão sofrendo algum “stress hídrico”, por uso intensivo desse recurso. Como forma de superar essa condição, o Fórum mostra um caso exemplar na Austrália.

A bacia dos rios Murray-Darling abastece a região de Adelaide, atendendo aproximadamente 2 milhões de pessoas e 40% da agricultura do país, um dos maiores produtores de grãos e carne do mundo. Volumes insustentáveis de retirada desse recurso fizeram baixar muito o fluxo desses rios, a ponto de torná-los impróprios para a navegação. Para impedir a destruição dessa bacia, especialistas de várias disciplinas realizaram estudos para elaborar um modelo de volume e estimativa de uso das águas desses rios, de forma a capacitar as autoridades a definir com eficiência onde, quando e como alocar esses recursos hídricos, de acordo com as necessidades dos diversos usuários.

Por exemplo, o volume de água consumido pela agricultura não é o mesmo o ano inteiro, Há períodos de menor utilização. Nas cidades, indústria, comércio e residências também consomem água em quantidades e épocas diferentes. Por que não planejar a destinação desse recurso de acordo com os padrões de consumo de cada público, em cada época do ano? Assim, as bacias serão preservadas e não faltará água para ninguém.

O modelo desenvolvido contribuiu não apenas para tornar mais racional a geração e distribuição de água potável, como mostrou gargalos e pontos de melhoria de consumo para a agricultura, o comércio, a indústria e as residências.

Esse modelo, todavia, ainda não consegue captar toda a complexidade de uma bacia hidrográfica “viva” e a interação de diversos elementos naturais, como água, vento, chuva e sol. Por isso, nem todos os eventos podem ser previstos.

De qualquer forma, a autoridade governamental que administra a bacia Murray-Darling oferece aos consumidores um site interativo com informações em tempo real sobre o nível e a qualidade da água, as variações desses parâmetros durante o ano e possíveis eventos que podem influir no sistema, como previsão de secas ou tempestades.

Esses dados garantem transparência e credibilidade para o ente administrador e contribuem para que os consumidores – domésticos, corporativos ou institucionais – possam tomar decisões. Assim, se o nível da bacia vem baixando no período e há previsão de seca, prefeituras, indústrias e produtores de uma região podem se antecipar à escassez com medidas de racionamento ou de estocagem de água.

Esse modelo, de fato, não conseguiu “controlar” os rios, mas vem fornecendo dados confiáveis, que, se analisados com o devido cuidado, levam a medidas que evitam prejuízos e catástrofes.

Será que podemos desenvolver algo parecido aqui em São Paulo? Ou já temos e nunca prestamos a devida atenção?

Algumas conclusões

Entre as recomendações endereçadas pelo Fórum a governos e empresas, vale ressaltar ainda aquela que sugere fortemente que os governos apliquem um aumento no salário mínimo, incentivem a sindicalização, invistam em serviços públicos e enfrentem a corrupção, como forma de combater a crescente desigualdade. A própria Christine Lagarde, diretora executiva do FMI, ressaltou insistentemente, em todos os seus pronunciamentos, que os frutos do progresso econômico precisam ser compartilhados de maneira mais igual.

O presidente francês, François Hollande, alertou sobre o crescimento do terrorismo e instou as empresas a abordarem o problema em seus planejamentos estratégicos. Agindo assim, de acordo com Hollande, as corporações estariam avançando além dos procedimentos de segurança internos e contribuindo para que a luta antiterror deixe de ser assunto de governos para chegar à sociedade civil.

Em evento paralelo, ministros do comércio, finanças e relações exteriores dos mais de 40 países (inclusive o Brasil) presentes ao Fórum concordaram que é preciso retomar a Rodada de Doha de negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Para quem não se lembra, a rodada de Doha é um fórum de negociação dos países integrantes da OMC que começou na cidade de Doha, capital do Qatar, e tem por objetivo de diminuir as barreiras comerciais em todo o mundo, com foco no livre comércio para os países em desenvolvimento. As conversações centram-se na separação entre os países ricos, desenvolvidos, e os maiores países em desenvolvimento (representados pelo G20). Os subsídios agrícolas são o principal tema de controvérsia nas negociações.

* Jorge Abrahão é diretor-presidente do Instituto Ethos.

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