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Mercado de trabalho para pessoas com deficiência

26/05/2015

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Por que razão as contratações não vêm crescendo significativamente nos últimos anos? Quais são os principais obstáculos no processo de inclusão?

Por Andrea Schwarz e Jaques Haber*

Incluir pessoas com deficiência no mercado de trabalho é um contínuo processo de aprendizado. Aprendemos de forma prática ao enfrentarmos os desafios que se colocam à nossa frente cada vez que avançamos para um novo estágio nesse processo, que ainda é recente. Cada passo que damos na direção da inclusão é cercado por tentativas, erros e novas tentativas, até acertarmos. Por isso é necessário gerar, organizar e compartilhar conhecimento para que possamos continuar avançando. Além disso, é importante refletirmos constantemente sobre o estágio em que a inclusão se encontra e quais são os próximos desafios.

A Lei de Cotas – Lei nº 8.213/91 –, que determina uma reserva de vagas para pessoas com deficiência em empresas com 100 ou mais funcionários, permitiu a entrada no mercado de trabalho formal de milhares de trabalhadores nessa condição. De acordo com os dados mais recentes da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério do Trabalho e Emprego, havia, em 2013, 357 mil pessoas com deficiência contratadas no Brasil.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O número é muito bom, obviamente, mas, conforme podemos observar no gráfico, ele se mantém estável desde 2007, oscilando pouco. E é justamente sobre esse ponto que queremos refletir.

Diante desse cenário de estagnação, surgem algumas perguntas que precisam ser respondidas para que seja possível continuar avançando na inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Por que as contratações não vêm crescendo significativamente nos últimos anos? Onde estão os gargalos no processo de inclusão? Quais são os principais obstáculos? Além das contratações, como podemos avaliar a qualidade da inclusão?

Por que não perguntar diretamente para as pessoas com deficiência? Justamente com o objetivo de coletar informações relevantes sobre o mercado de trabalho voltado para as pessoas com deficiência e tentar elucidar questões como essas, a consultoria i.Social realiza desde 2011, em seu banco de currículos de profissionais com deficiência a pesquisa Pessoas com Deficiência: Expectativas e Percepções sobre o Mercado de Trabalho.

Em 2014, essa pesquisa teve 1.725 respondentes, uma amostra significativa, composta por pessoas com todos os tipos de deficiência, de diferentes faixas etárias, graus de qualificação e regiões do país. São eles os principais impactados pela inclusão no mercado de trabalho e por isso suas opiniões são importantes.

A pesquisa nos traz bons indícios que nos permitem aprofundar a reflexão sobre o mercado de trabalho inclusivo, de forma que seja possível identificar as principais questões que merecem maior atenção no estágio em que o processo de inclusão se encontra.

Veja o gráfico abaixo sobre como as pessoas com deficiência entrevistadas percebem o status do mercado de trabalho inclusivo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Conforme podemos observar, desde que a i.Social começou a realizar essa pesquisa, apenas uma pequena parcela dos entrevistados considerava que o mercado de trabalho para pessoas com deficiência estava aquecido. A grande maioria considerava o mercado estável ou retraído.

Entretanto, a partir de 2013 identificamos uma mudança de rota negativa nessa tendência, em razão da diminuição de 21% para 14% das pessoas que classificaram o mercado inclusivo como aquecido, seguida de aumento das respostas “retraído” e “praticamente inexistente”.

Se, por um lado, seguimos estáveis com relação ao número de empregos, por outro identificamos uma percepção de retração do mercado de trabalho inclusivo, de acordo com o que as próprias pessoas com deficiência apontaram.

Em 2014, somadas as opções “retraído” e “praticamente inexistente”, temos um total de 46% dos respondentes, quase metade deles. É preocupante!

São pessoas que estão encontrando maior dificuldade em encontrar oportunidades de trabalho ou que simplesmente não as encontram.

O gráfico a seguir ajuda a entendermos melhor o que está acontecendo. Quando pedimos para que cada pessoa identificasse as três principais dificuldades veja quais foram os itens apontados.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Em suas quatro edições, a pesquisa vem indicando, de forma crescente, que as três principais barreiras que o profissional com deficiência considera impeditivas para a inclusão são:

1-   Oportunidades ruins. Este critério se relaciona à baixa qualidade das vagas ofertadas. Essa questão aparece em grande proporção na opinião dos respondentes e está claramente alinhada às demais opiniões emitidas quando o tema vagas oferecidas X pessoas com deficiência é colocado em pauta.

2-  Poucas oportunidades. Correlacionado à questão anterior, o tema novamente recebe a adesão da maioria das opiniões.

3-  Foco exclusivo no cumprimento da cota. Grande parte dos respondentes tem a percepção de que as empresas contratam pessoas com deficiência apenas para cumprir a legislação de cotas. Constatamos que esta é possivelmente a principal causa da baixa quantidade e qualidade das vagas destinadas aos profissionais com deficiência.

Para complementar esta análise, trazemos outro indicador importante. Na i.Social, são trabalhadas cerca de 300 vagas por mês, em média. Destas, entre 80% e 90% são vagas operacionais, que oferecem até R$ 3.000 de salário, ou seja, pouco atrativas para candidatos mais qualificados. Por incrível que pareça, hoje é mais difícil conseguir empregar uma pessoa com deficiência muito qualificada como assistente administrativo, por exemplo, do que uma com qualificação média. São poucas as oportunidades de trabalho destinadas aos profissionais com deficiência mais qualificados. Se a pessoa apresentar uma deficiência mais severa, como andar de cadeira de rodas ou não enxergar, as chances diminuem ainda mais.

Portanto, podemos constatar que esses fatores contribuem negativamente para a qualidade do processo inclusivo. A Lei de Cotas é fundamental, mas é necessário ampliar o foco para além do seu cumprimento quantitativo. É preciso pensar em formas de estimular a melhoria na qualidade da inclusão que é praticada.

Nesse sentido, o Prêmio Melhores Empresas para Trabalhadores com Deficiência, realizado pela Secretaria Estadual dos Direitos das Pessoas com Deficiência de São Paulo, é importante, pois se constitui num instrumento de identificação, apoio e reconhecimento das boas práticas de inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho.

Ao premiarmos as melhores empresas inclusivas, estamos indo além de reconhecer o mérito das organizações que foram desbravadoras na trilha da inclusão. Estamos contribuindo para organizar e compartilhar o conhecimento, tornando acessível ao mercado as principais soluções encontradas para os desafios comuns a todos que se dispõem ao nobre desafio de incluir.

Afinal, contratar pessoas com deficiência é importante. E a Lei de Cotas é o instrumento necessário para que isso aconteça. Mas, para continuarmos avançando, é fundamental garantir qualidade cada vez maior ao processo, para que um dia tenhamos de fato igualdade de oportunidades para todos os profissionais, independentemente de apresentarem ou não uma deficiência.

* Andrea Schwarz e Jaques Haber são sócios-diretores da i.Social, consultoria especializada na inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho.

Inscreva sua empresa para o Prêmio Melhores Empresas para Trabalhadores com Deficiência 2015, até o dia 31 de julho de 2015 pelo site http://pmetcd.sedpcd.sp.gov.br.

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