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Pesquisa mostra que Brasil é líder em empreendedorismo feminino

04/09/2015

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Leila-Velez-e-produtos-do-Beleza-NaturalEntretanto, as mulheres brasileiras ainda não ganham os mesmos salários que os homens. Será que uma coisa tem a ver com a outra?           

Por Jorge Abrahão*

De cada dez brasileiros entre 18 e 64 anos, três são empreendedores, isto é, possuem empresa ou estão envolvidos em negócios próprios. Estes são alguns dados da nova pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM), feita no Brasil pelo Sebrae e pelo Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP). O levantamento mundial sobre o empreendedorismo é fruto da parceria entre a GEM, a London Business School e o Babson College.

Outro dado interessante é que o perfil do empreendedor no Brasil é feminino, mais negro, entre 18 e 49 anos, classe C.

O relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre tendências mundiais de emprego dá conta de que, tanto no Brasil quanto no mundo, as mulheres ainda ganham menos do que homens. Esse dado é corroborado pela pesquisa do IBGE divulgada hoje. Em média, no Brasil, a mulher ganha 40% menos do que o homem. Se a mulher for negra ou parda, seus rendimentos não serão mais do que 35% daqueles do homem branco.

Será que o perfil do empreendedorismo no Brasil tem algo a ver com a defasagem de salários entre gênero e raça? E essa defasagem teria impacto sobre as empresas e a economia? Mais ainda: quais os desafios os problemas relacionados à diversidade impõem aos líderes?

Estas e outras perguntas estão no centro das discussões das atividades sobre empreendedorismo e diversidade da Conferência Ethos 360° – 2015. No evento, o Sebrae oferece duas atividades para debater empreendedorismo. E as questões de diversidade serão abordadas em palestras e diálogos organizadas pelo próprio Instituto Ethos, uma das quais em parceria com o Carrefour.

Vamos, neste artigo, abordar alguns dados interessantes sobre estes temas.

  1. Qual é o perfil do empreendedor no Brasil?

O perfil desse empreendedor surpreende: na verdade, trata-se de empreendedora, negra, jovem (até 40 anos) e da classe C. Quem revelou esses dados foi uma pesquisa mundial, que no Brasil é feita pelo Sebrae e pelo Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP). Internacionalmente, quem realiza esse levantamento é o Global Entrepreneurship Monitor (GEM), em parceria entre a London School of Economics (Reino Unido) e o Babson College (EUA). O estudo foi realizado em 100 países, que representam 90% do PIB mundial.

No Brasil, foram entrevistadas 10 mil pessoas entre 18 e 64 anos de idade, de todas as regiões do país. Comparando os resultados daqui com aqueles dos demais países, o Brasil se destaca como o de maior número de empreendedores relativamente à população, com 26,7%. Fica oito pontos à frente da China, segunda colocada, que tem uma taxa de empreendedores de 18,7% entre seus 1,4 bilhão de habitantes.

  1. A mulher é mais empreendedora por necessidade ou por vocação?

Há um pouco das duas tendências. A pesquisa do Sebrae/GEM vem sendo feita desde os anos 1990. Analisando a linha histórica, é possível verificar que, no Brasil, até o início dos anos 2000, quem abria um negócio próprio o fazia por falta de ocupação no mercado de trabalho. Naquela época, as mulheres já empreendiam mais do que os homens e as causas eram variadas, como baixos salários e jornada flexível (que permite conciliar vida doméstica com atividade profissional). Hoje, de acordo com este estudo, as empreendedoras escolhem abrir seu próprio negócio ou participar de projetos. As questões salariais e de jornada de trabalho ainda são fatores importantes para essa decisão, mas influencia também a oportunidade de pôr em prática sua própria ideia.

Isso mostra uma mudança cultural importante e silenciosa, mas que deve mostrar seus impactos socioeconômicos em breve, tais como o incremento do número de mulheres gerenciando negócios de sucesso, o aumento da renda nesse segmento e mudança de status dessas mulheres, com reflexos profundos no comportamento da sociedade.

Já existem casos de empreendedoras de sucesso, como Leila Cristina Velez (foto) e sua empresa, o Instituto Beleza Natural. Ex-empregada doméstica, Leila inventou em casa uma fórmula para amaciar os próprios cabelos, bastante crespos. As amigas e vizinhas começaram a pedir a “receita” e aí Leila percebeu que tinha um “negócio” nas mãos. Em 1993, com as dificuldades no mercado de trabalho, associou-se a um taxista e a dois ex-atendentes do McDonald’s para investir as economias num salão de beleza no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro. Leila e os sócios fizeram do salão um dos primeiros especializados em cabelos crespos e encaracolados. A fórmula do relaxante capilar ganhou escala industrial e, em 2005, o Beleza Natural já possuía 100 lojas e 1.200 funcionários.

Enquanto fazia o negócio crescer, Leila cursou administração na ESPM e especialização em gestão em Harvard e Stanford, nos EUA. Hoje, o Beleza Natural atende 100 mil pessoas e emprega 3 mil funcionários. Com o aporte recebido de investidores, Leila poderá realizar seu sonho de inaugurar uma filial da empresa em Nova York.

Em 2014, Leila Velez, que integra o Conselho Deliberativo do Ethos, foi escolhida pelo Fórum Econômico de Davos como uma das jovens líderes (menos de 40 anos) mais influentes no mundo.

  1. A desigualdade salarial de gênero ainda persiste e o empreendedorismo feminino tem a ver com isso?

Persiste a desigualdade salarial tanto de gênero quanto de raça. A pesquisa do IBGE divulgada hoje mostra que as mulheres recebem 60% do rendimento médio dos homens e que o salário de uma mulher negra não ultrapassa 35% dos rendimentos de um homem branco. Estes números mostram um mercado de trabalho que paga os profissionais mais de acordo com perfil de raça e de gênero do que por aptidões e produtividade. Tal tendência causa impactos na vida das pessoas e na economia do país. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), no estudo “Tendências Mundiais de Emprego para Mulheres”, promover o crescimento de um país por meio da perpetuação dessa diferença salarial compromete os indicadores socioeconômicos.

  1. Conclui-se, então, que o empreendedorismo feminino tem a ver com menores salários pagos às mulheres?

Sim, mas a resposta vai além. O que incentiva a mulher, notadamente, a correr riscos no mundo dos negócios é a “crença” na sua própria ideia e a clara noção de que “ser dona do seu negócio” também contribui para a superação de outros fatores que a segregam.

As empresas têm poder e organização para promover maior equidade de gênero e raça no mercado de trabalho brasileiro. O Carrefour, por exemplo, lançou em maio um programa para promover a valorização da diversidade tanto em seus quadros funcionais quanto no de seus fornecedores. Mas isso será tema de um próximo artigo.

* Jorge Abrahão é diretor-presidente do Instituto Ethos.

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