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Micro e pequenas empresas mais sustentáveis. É possível?

10/12/2013

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Sair da inércia e buscar uma real transformação é muito difícil, mas os empreendedores de MPEs podem focar sua energia numa atuação diferenciada.

Por Marcus Nakagawa*

A sustentabilidade começa a determinar um padrão de funcionamento, desenho estratégico e controle nas grandes empresas, nas multinacionais e até em algumas empresas de médio porte. Mas e quanto às pequenas e microempresas? Elas também podem  se tornar mais sustentáveis? Em que mudar e quando trocar ou investir neste tema, que envolve tantas ações e projetos?

Atualmente, a área das micro e pequenas empresas (MPEs) reúne cerca de 12 milhões de “potenciais empresários” com negócios e contrata 15,6 milhões de pessoas com carteira assinada, conforme o boletim do Sebrae Estudos e Pesquisa, de julho de 2013. O documento ainda mostra que a taxa de sobrevivência de empresas com até dois anos passou de 73,6%, nas criadas em 2005, para 75,6%, nas criadas em 2007. A taxa de sobrevivência é maior na indústria (79,9%) e na região Sudeste (78,2%).

Mas será que sobreviver ao tempo é o único indicador de sustentabilidade, uma vez que a empresa está se custeando financeiramente? Em uma pesquisa com esse público, o Sebrae mostra que o conhecimento sobre os temas sustentabilidade e meio ambiente é médio. De um universo de 3.912 entrevistados na pesquisa do ano passado, 65% pensam em sustentabilidade nas MPEs. Por outro lado, somente 12% desse total declaram entender muito sobre o assunto e 25% dizem entender pouco. Mas, quando questionados sobre o grau de importância que as empresas deveriam atribuir à questão do “meio ambiente”, 75,2% respondem que deve ser de alta importância.

Então, se o tema tem importância, como trazê-lo para o dia a dia e modificar alguns “vícios” da gestão antiga? O Instituto Ethos e o Sebrae, em conjunto, criaram os Indicadores Ethos-Sebrae de Responsabilidade Social Empresarial para Micro e Pequenas Empresas, que servem como um autodiagnóstico para análise do empreendimento.

Outra ferramenta que pode ser usada para esse fim por empresas de qualquer porte ou setor são os recém-lançados Indicadores Ethos para Negócios Sustentáveis e Responsáveis.

Respondendo as perguntas sugeridas em qualquer dessas ferramentas e buscando as informações quantitativas para as comparações anuais, as MPEs terão um panorama dos pontos a melhorar e a visão de projetos a serem desenvolvidos.

Mas sabemos que não é tão simples assim. Na vida real, o empreendedor tem plena consciência de que precisa arranjar tempo dentro do seu dia atribulado para responder, pensar e modificar as suas ações, tornando-as mais sustentáveis.

No entanto, se esse empreendedor realmente entender que a sustentabilidade inserida no seu cotidiano não está atribuída somente às vertentes sociais e ambientais, mas que a questão financeira é essencial, valorizará ainda mais o tema. A pesquisa do Sebrae mostra ainda que quase a metade dos entrevistados (46%) acha que a questão da sustentabilidade representa oportunidade de ganhos para a sua empresa, o que corrobora a necessidade de um entendimento mais amplo sobre o tema.

Um caso que ficou famoso é de uma pequena fornecedora de um grande banco que passou por uma capacitação sobre responsabilidade socioambiental e resolveu abraçar a causa. A empreendedora, dona de uma empresa de motoboys, resolveu melhorar o seu indicador social no que se refere a público interno e decidiu conceder benefícios de saúde e qualidade de vida aos seus funcionários, além de registrar oficialmente toda a sua equipe de portadores. Isso fez com que o seu turnover, as dispensas médicas e o absenteísmo diminuíssem e a empresa começou a ter melhor rentabilidade financeira. Com isso, passou a pegar mais serviços com outros clientes que valorizavam a questão da sustentabilidade e que também ficaram satisfeitos com a diminuição de possíveis riscos sociais e trabalhistas.

Outra maneira de uma micro ou pequena empresa tornar-se mais sustentável é ela já nascer com este fator no seu DNA ou no seu produto ou serviço. O painel de práticas sustentáveis do Centro Sebrae de Sustentabilidade  mostra diversas histórias de empreendimentos que foram concebidos ou adaptados para os temas e indicadores que buscam o desenvolvimento sustentável. É o caso da JS Metalurgia, que reduziu seus custos mensais em 10% e aumentou em 5% seu faturamento com práticas sustentáveis, que ainda geram novos produtos. Há também o caso de um restaurante de Vilhena, em Rondônia, que transforma resíduos alimentares em adubo orgânico para ser usado na plantação de hortaliças e legumes. E, além disso, educa o cliente sobre o consumo consciente, cobrando menos de quem não deixa sobras no prato.

Existem muitos exemplos, mas inspirar-se neles e sair da inércia do dia a dia para buscar uma real transformação é muito difícil para o ser humano em geral. Entretanto, os empreendedores de micro e pequenas empresas têm muita energia, o que faz com que eles se destaquem. Focar essa energia numa atuação diferenciada já é um bom começo, mas aceitar trabalhar com sustentabilidade como um novo desafio é o caminho para a real transformação.

* Marcus Nakagawa é sócio-diretor da iSetor e presidente do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade (Abraps).

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Este texto faz parte da série de artigos de especialistas promovida pela área de Gestão Sustentável do Instituto Ethos, cujo objetivo é subsidiar e estimular as boas práticas de gestão.

Veja também:
– A promoção da igualdade racial pelas empresas, de Reinaldo Bulgarelli;
– Relacionamento com partes interessadas, de Regi Magalhães;
– Usar o poder dos negócios para resolver problemas socioambientais, de Ricardo Abramovay;
– As empresas e o combate à corrupção, de Henrique Lian;
– Incorporação dos princípios da responsabilidade social, de Vivian Smith;
– O princípio da transparência no contexto da governança corporativa, de Lélio Lauretti;
– Empresas e comunidades rumo ao futuro, de Cláudio Boechat;
– O capital natural, de Roberto Strumpf;
– Luzes da ribalta: a lenta evolução para a transparência financeira, de Ladislau Dowbor;
– Painel de stakeholders: uma abordagem de engajamento versátil e estruturada, de Antônio Carlos Carneiro de Albuquerque e Cyrille Bellier;
– Como nasce a ética?, de Leonardo Boff;
– As empresas e o desafio do combate ao trabalho escravo, de Juliana Gomes Ramalho Monteiro e Mariana de Castro Abreu;
– Equidade de gênero nas empresas: por uma economia mais inteligente e por direito, de Camila Morsch;
– PL n° 6.826/10 pode alterar cenário de combate à corrupção no Brasil, de Bruno Maeda e Carlos Ayres;
– Engajamento: o caminho para relações do trabalho sustentáveis, de Marcelo Lomelino;
– Sustentabilidade na cadeia de valor, de Cristina Fedato;
– Métodos para integrar a responsabilidade social na gestão, de Jorge Emanuel Reis Cajazeira e José Carlos Barbieri;
– Generosidade: o quarto elemento do triple bottom line, de Rogério Ruschel;
– O que mudou na sustentabilidade das empresas, de Dal Marcondes;
– Responsabilidade social empresarial e sustentabilidade para a gestão empresarial, de Fernanda Gabriela Borger;
– Os Dez Mandamentos da empresa responsável, de Rogério Ruschel;
– O RH como alavanca da estratégia sustentável, de Aileen Ionescu-Somers;
– Marcas globais avançam na gestão de resíduos sólidos, de Ricardo Abramovay;
– Inclusão e diversidade, de Reinaldo Bulgarelli;
– Da visão de risco para a de oportunidade, de Ricardo Voltolini;
– Medindo o bem-estar das pessoas, de Marina Grossi;
– A quantas andam os Objetivos do Milênio, de Regina Scharf;
– Igualdade de gênero: realidade ou miragem?, de Regina Madalozzo e Luis Cirihal;
– Interiorização do Desenvolvimento: IDH Municipal 2013, de Ladislau Dowbor;
– Racismo ambiental: derivação de um problema histórico, de Nelson Inocêncio;
Procuram-se líderes da sustentabilidade, de Marina Grossi e Marcos Bicudo;
Relato integrado: evolução da comunicação de resultados, de Álvaro Almeida;
A persistência das desigualdades raciais no mundo empresarial, de Pedro Jaime;
A agropecuária e as emissões de gases de efeito estufa, de Marina Piatto, Maurício Voivodic e Luís Fernando Guedes Pinto; e
Gestão de impactos sociais nos empreendimentos: riscos e oportunidades, de Fábio Risério, Sérgio Avelar e Viviane Freitas.

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