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O que mudou na sustentabilidade das empresas

11/06/2013

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Já não basta mais que a empresa pareça sustentável em belas páginas e filmes para TV. É preciso que ela seja sustentável no âmago de sua missão.

Por Dal Marcondes*

Empresas e as organizações que as representam constroem políticas de sustentabilidade na maioria das vezes pautadas por metas ambientais. Poucas vezes avançam em desafios sociais e, quando o fazem, na maior parte das vezes são ações com foco em filantropia. Grande parte das pautas ambientais colocadas para as empresas no último quarto do século XX já foi plenamente absorvida e incorporada pelas grandes empresas nacionais e globais. Não se jogam mais poluentes em rios, as chaminés têm filtros e a gestão de resíduos está no topo das listas de prioridades. Mas e as verdadeiras pautas sociais? Como estão sendo tratadas?

O mundo mudou e as necessidades sociais também. Fazer projetos com comunidades e oferecer benefícios periféricos para grupos de colaboradores, pequenas coisas que vão além da lei e de acordos coletivos, devem ser estimulados, mas não fazem mais sentido enquanto “marketing social ou de causas”. As empresas precisam se redescobrir como atores sociais e compreender que seu papel vai além da simples “remuneração dos acionistas” e bom relacionamento com seus stakeholders. Fazer relatórios de sustentabilidade já é uma linha de corte estabelecida pelo próprio mercado, uma vez que a BM&F Bovespa, uma das principais bolsas de valores do mundo, já lançou uma campanha para que as empresas listadas publiquem seus relatórios ou expliquem por que não o fazem.

Nessa nova era de crises econômicas e sociais, as empresas devem mudar as perguntas que lançam para dentro de suas estruturas. Não basta mais parecer sustentável em belas páginas e filmes para TV. É preciso ser sustentável no âmago de sua missão.

E as perguntas que devem ser feitas são: o que as empresas estão, de fato, fazendo para ajudar a manter a humanidade em evolução? Qual é sua contribuição para o futuro? Como elas se reconstroem a partir de novas forças que estão surgindo na sociedade? E, principalmente, como elas estão incorporando os milhões de jovens que chegam à idade do trabalho todos os anos?

Empresas existem para gerar riquezas e oferecer trabalho. Nos últimos 20 anos, as “modernas” técnicas de gestão foram eliminando postos de trabalho e estabelecendo linhas de corte de produtividade cada vez mais ferozes. Isso é parte do grande problema do desemprego global para jovens. Cada CEO deveria se perguntar como incorporar jovens em suas empresas, como oferecer trabalho em todas as faixas de jovens, e não apenas para aqueles que possuem MBA e são capazes de conversar em duas ou mais línguas. São esses os jovens que estão nas ruas e buscam alternativas de sobrevivência por meio de “comportamentos antissociais” .

Quando a sociedade se dispõe a debater questões como a maioridade penal, é preciso discutir, também, o que essa mesma sociedade está fazendo para ampliar a oferta de trabalho para jovens de baixa renda, jovens mal preparados pelas escolas públicas e que vêm de famílias incapazes de oferecer os padrões de consumo estimulados pela publicidade.

Portas tradicionais de acesso ao trabalho foram fechadas, como os antigos office boys, que construíam relações nas empresas em que trabalhavam e nas empresas clientes, networking que os ajudava a escalar cargos nessas empresas e construir uma carreira. Agora, utiliza-se o trabalho de motoboys, que correm de portaria em portaria, sem conhecer ninguém além de porteiro, e que são execrados no trânsito como “destruidores de espelhinhos”. Machucam-se ou morrem pelas ruas das cidades em nome de uma suposta eficiência para as empresas, mas em trabalhos que não oferecem nada, sequer uma renda decente.

As novas questões da sustentabilidade das empresas estão mais ligadas ao que as empresas podem fazer para melhorar a sociedade em que estão inseridas, não apenas sob o ponto de vista ambiental, mas também em relação à sua responsabilidade em oferecer caminhos para o desenvolvimento das pessoas.

*O jornalista Dal Marcondes é diretor executivo da Envolverde e especialista em sustentabilidade e comunicação.

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Este texto faz parte de uma série de artigos de especialistas promovida pela área de Gestão Sustentável do Instituto Ethos, cujo objetivo é subsidiar e estimular as boas práticas de gestão.

Veja também:
A promoção da igualdade racial pelas empresas, de Reinaldo Bulgarelli;
Relacionamento com partes interessadas, de Regi Magalhães;
Usar o poder dos negócios para resolver problemas socioambientais, de Ricardo Abramovay;
As empresas e o combate à corrupção, de Henrique Lian;
Incorporação dos princípios da responsabilidade social, de Vivian Smith;
O princípio da transparência no contexto da governança corporativa, de Lélio Lauretti;
Empresas e comunidades rumo ao futuro, de Cláudio Boechat;
O capital natural, de Roberto Strumpf;
Luzes da ribalta: a lenta evolução para a transparência financeira, de Ladislau Dowbor;
Painel de stakeholders: uma abordagem de engajamento versátil e estruturada, de Antônio Carlos Carneiro de Albuquerque e Cyrille Bellier;
Como nasce a ética?, de Leonardo Boff;
As empresas e o desafio do combate ao trabalho escravo, de Juliana Gomes Ramalho Monteiro e Mariana de Castro Abreu;
Equidade de gênero nas empresas: por uma economia mais inteligente e por direito, de Camila Morsch;
PL n° 6.826/10 pode alterar cenário de combate à corrupção no Brasil, de Bruno Maeda e Carlos Ayres;
Engajamento: o caminho para relações do trabalho sustentáveis, de Marcelo Lomelino;
Sustentabilidade na cadeia de valor, de Cristina Fedato;
Métodos para integrar a responsabilidade social na gestão, de Jorge Emanuel Reis Cajazeira e José Carlos Barbieri; e
Generosidade: o quarto elemento do triple bottom line, de Rogério Ruschel.

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