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Representante do W20 fala sobre empoderamento feminino corporativo

19/01/2018

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Empresas podem contribuir para a redução da disparidade

A ONU projeta 100 anos para que haja igualdade econômica de gêneros em todo o mundo. A estimativa é alarmante, mas ainda mais assustadora é a realidade das mulheres no mercado de trabalho. No Brasil, entre as 500 maiores empresas brasileiras, apenas 11% têm mulheres no topo, de acordo com o Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 maiores empresas do Brasil e suas ações afirmativas, realizado pelo Instituto Ethos em Parceria com o Banco interamericano de Desenvolvimento (BID).

Ainda com base em dados, um estudo do Instituto Peterson (EUA) confirmou que empresas com mulheres na cúpula tendem a ter 15% a mais de receita líquida, A análise é que empresas que contemplam a diversidade criam um ambiente mais justo, mais tolerante e mais criativo para o enfrentamento de problemas, o que eleva a produtividade, impactando positivamente os resultados. Além disso, a McKinsey identificou através de um estudo com 95 países que US$28 trilhões seriam adicionados à economia global até 2025 se todos os países atingissem a plena igualdade econômica entre homens e mulheres.

As empresas podem contribuir com essa questão ao adotarem algumas práticas e desta forma auxiliarem não só as mulheres, mas também o entorno a elas e, por consequência a sociedade como um todo.

Ana Fontes, fundadora da Rede Mulher Empreendedora, foi a representante do Brasil no Women 20 (W20), um espaço de diálogo realizado para pautar as questões de gênero para a reunião do G20, cujo objetivo principal é promover o empoderamento econômico das mulheres. Nesta entrevista, Ana explica quais práticas podem ser adotadas a fim de viabilizar a ascensão feminina no setor corporativo.

Ethos: Quais os principais reflexos gerados pelo empoderamento econômico na vida das mulheres?

Ana Fontes: As mulheres empoderadas economicamente tornam-se independentes, tanto financeiramente como em suas vidas. Ela toma suas próprias decisões, considerando suas vontades e bem-estar. Muitas mulheres se livram de um relacionamento abusivo, por exemplo, quando adquirem sua independência financeira. Não se permitem viver em situação de vulnerabilidade e empoderam outras mulheres, mudando não só sua vida, mas o ecossistema a sua volta.

“As mulheres empoderadas economicamente tornam-se independentes, tanto financeiramente como em suas vidas. […] empoderam outras mulheres, mudando não só sua vida, mas o ecossistema a sua volta”. 

Ethos: Como as empresas podem contribuir para a equidade de gênero no ambiente corporativo?

Ana Fontes: Criando políticas internas para apoiar o desenvolvimento profissional das mulheres, não existe uma única ação, mas sim a combinação de várias para mudar esta realidade. Desde mentorias, horários flexíveis, apoio em retorno de licença maternidade, inclusão de licença parental com, também, responsabilidades maiores para os pais e equiparação salarial entre homens e mulheres que ocupem as mesmas posições. O mais importante é assumir as disparidades e trabalhar de forma clara e transparente envolvendo a todos homens e mulheres para mudar o cenário.

“… não existe uma única ação, mas sim a combinação de várias para mudar esta realidade”.

Ethos: Há estudos que apontam os benefícios da diversidade para o negócio, como a adição de trilhões para a economia global. Em sua opinião, por que a disparidade de gêneros persiste no mercado de trabalho?

Ana Fontes: Porque o modelo do mercado de trabalho ainda é o mesmo há mais de 60 anos. Hoje, mesmo considerando a tecnologia e as mudanças sociais, ainda vivemos um mundo de trabalho de comando e controle, de presença física e controlado pela maioria masculina. Empresas cujas lideranças tem participação feminina, além de terem melhores resultados, são mais bem vistas pelos consumidores. Sou a favor de políticas afirmativas (por períodos transitórios) acredito que a implantação de quotas poderia mudar esta realidade, uma vez que as pesquisas apontam, ainda, que infelizmente esta realidade levará mais de 100 anos para ser corrigida.

Ethos: Como foi representar o Brasil no Women 20?

Ana Fontes: Foi uma experiência ímpar, trabalhamos durante dois meses online em um documento que resultasse em uma página de reinvindicações para apoiar a causa das mulheres no mundo. E durante 3 dias em Berlim com apoio e presença das mulheres mais poderosas do mundo (Merkel, Lagarde, entre outras) finalizamos o documento e entregamos em uma cerimônia oficial para a Angela Merkel a pauta de reivindicações. Foi uma honra representar o Brasil e o trabalho continua, o W20 este ano será na Argentina e continuaremos a missão de sensibilizar e buscar ações práticas para melhorar a situação das mulheres.

Ethos: Quais as experiências e o que integra o documento final que foi criado coletivamente pelas mulheres representantes dos países membros do G20?

Ana Fontes: As mais de 60 delegadas puderam trocar experiências e falar sobre a realidade de cada um de seus países, criamos um grupo forte e engajado e acima de tudo entendemos que as barreiras enfrentadas pelas mulheres no mundo infelizmente são comuns (a exceção de questões culturais locais), diferenças salariais de 30% e baixo crescimento de mulheres em cargos de liderança, as pesquisas apontam que levaremos mais de 100 anos para equilibrar homens e mulheres em cargos de liderança. Baixa participação de mulheres em cargos políticos, baixa presença de mulheres em áreas “duras” da ciência – STEM (ciências, tecnologia, engenharia e matemática). A dificuldade de acesso a credito para mulheres empreendedoras é uma questão em todos os países. Veja aqui o documento final do W20.

Ethos: O objetivo da RME se baseia em qualificar e fomentar o empreendedorismo feminino?

Ana Fontes: Sim, o principal objetivo da RME é empoderar as mulheres economicamente, por meio do empreendedorismo, gerando independência financeira e de decisão sobre seus negócios e suas vidas. Para isso qualificamos as empreendedoras com cursos e workshops, conteúdo de qualidade e promovemos o networking e inspiração em nossos eventos. Acreditamos que quando uma mulher é empoderada financeiramente, ela muda a sua família e consequentemente a sociedade.

“Acreditamos que quando uma mulher é empoderada financeiramente, ela muda a sua família e consequentemente a sociedade”.

Ethos: A RME realizou uma pesquisa na qual identificou que as mulheres empreendedoras de sucesso investem em suas comunidades. O que mais essa pesquisa observou sobre os ganhos sociais com a ascensão feminina?

Ana Fontes: Observamos que as mulheres ao obterem sucesso em seus empreendimentos, tratam seus funcionários de maneira mais humana e compreensiva, gerando mais satisfação no ambiente de trabalho. Elas também investem mais no bem-estar da família e na educação dos filhos, o que aumenta a escolaridade da população. Mulheres empoderadas economicamente incentivam a mudança da sociedade. (Para obter mais informações sobre as pesquisas realizadas pelo RME clique sobre o nome da pesquisa: Pesquisa Quem são elas 2016 e Pesquisa Empreendedoras e seus negócios 2017).

Ethos: Quais as principais ações do RME?

Ana Fontes: A RME promove muitas ações para fomentar o empreendedorismo feminino e capacitar mulheres. Criamos conteúdo relevante de qualidade e disponibilizamos em nosso site; temos um grupo de apoio com mais de 45 mil mulheres no qual promovemos a sororidade por meio de discussões e ajuda mútua; promovemos eventos e encontros com capacitação, inspiração, feira de negócios e exposição e networking, mentorias coletivas e individuais; espaço publicitário em destaque no site, por meio de nosso marketplace e indicações, entre outros. E ainda realizamos:

– Fórum Empreendedoras: um dia de programação voltado para mulheres empreendedoras, com palestras de inspiração e conteúdo, atividades e workshops. Acontece em setembro e reúne 2.600 pessoas;

– Cafés com Empreendedoras: acontecem durante todo o ano pelo Brasil, em São Paulo são sediados no Sebrae. Reúnem cerca de 200 empreendedoras em cada edição promovendo sorteios, palestras, workshops, pitch e networking;

– Temos um grupo no Facebook com mais de 45 mil mulheres, onde promovemos discussões e apoio para empreendedoras;

– Temos um marketplace, no qual as empreendedoras podem divulgar seus negócios gratuitamente, com a opção de função premium.

 

Por Rejane Romano, do Instituto Ethos

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