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Contribuições da certificação socioambiental para a sustentabilidade da citricultura brasileira

20/01/2014

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O alto uso de agrotóxicos, a grande geração de resíduos e a intensidade do trabalho no campo exigem atenção e melhorias para o setor.       

Por Luís Fernando Guedes Pinto, Daniella Macedo, Alessandro Rodrigues e Eduardo Augusto Girardi

O Brasil é hoje líder em produção e exportação de suco de laranja, que representam 3% do capital gerado no agronegócio brasileiro e 1% das exportações nacionais. Mais de 90% do processamento da fruta está concentrado em três empresas e aproximadamente 79% das áreas de produção de laranja e quase a totalidade das indústrias de suco de laranja estão localizadas no Estado de São Paulo. Minas Gerais é a nova região de expansão do setor.

Além da importância econômica, o setor tem grande relevância socioambiental por algumas razões. Os cerca de 1 milhão de hectares de pomares da fruta estão localizados em áreas de grande importância ambiental: nos ameaçados biomas da Mata Atlântica e do Cerrado e em regiões de recarga de aquíferos ou em áreas nas quais a água passou a ser um recurso escasso.

Exatamente nessas regiões, o cultivo é frequentemente irrigado. Além disso, o uso de agrotóxicos é intenso, em razão de uma grande e complexa incidência de pragas e doenças. Finalmente, por causa da necessidade de muitos tratos culturais (como monitoramento de pragas e doenças) e pelo fato de a colheita ser ainda cem por cento manual, o setor emprega grande quantidade de mão de obra. Para a safra, há muita contratação de trabalhadores temporários, homens e mulheres, incluindo migrantes.

A certificação socioambiental é um instrumento de mercado com potencial para conduzir mudanças de alguns setores produtivos rumo à sustentabilidade. Na citricultura brasileira, é um fenômeno recente, mas vem se tornando uma tendência. Entre os sistemas de certificação agrícola, o da Rede de Agricultura Sustentável (RAS)-Rainforest Alliance é o de maior importância para a citricultura.

Em dezembro de 2013, a RAS possuía no mundo 2.985.653 ha de área certificada. No Brasil, são 300.070 ha de área total certificada, principalmente de café, cacau, laranja e pecuária. Nesse universo, a laranja representa 39.184 ha de área total, sendo 20.663 ha de área de produção. Isso resulta em 724.928 toneladas de frutas, o que representa cerca de 6% da produção nacional.

Partindo desse cenário, realizamos um estudo com o objetivo de identificar os resultados preliminares da implementação da certificação socioambiental na citricultura brasileira, analisando o perfil dos primeiros empreendimentos certificados, o seu desempenho socioambiental e as áreas de melhoria para atendimento dos padrões de certificação. Para isso, foram analisados os relatórios de auditorias dos seis primeiros empreendimentos citrícolas certificados no Brasil e com certificados válidos pelo sistema da RAS-Rainforest Alliance Certified no início de 2013.

A primeira fase de implementação de normas de sustentabilidade no setor revelou a complexidade dos sistemas de produção presentes na citricultura brasileira e as implicações para a sua sustentabilidade. Observou-se que a produção é feita em grandes propriedades e com sistemas de produção de grande complexidade, com riscos para o meio ambiente e para os trabalhadores. Constatamos que as propriedades produtoras dedicam em média 30% de sua área para a conservação de ecossistemas naturais. Todavia, o intenso uso de agrotóxicos, a grande geração de resíduos das fazendas e a intensidade do trabalho no campo exigem atenção e melhorias para o setor.

A conquista da certificação pelos empreendimentos auditados até o momento indica que os riscos podem ser controlados e minimizados e a citricultura pode ser conduzida de maneira responsável, contribuindo para a conservação dos recursos naturais e o fornecimento de condições dignas e seguras de trabalho.

A melhoria contínua decorrente da certificação pode conduzir o setor a um novo patamar de sustentabilidade. Contudo, embora a certificação socioambiental seja um instrumento voluntário de mercado, é desejável que seja articulada com políticas públicas e outros mecanismos de estímulo a boas práticas de produção e socioambientais na citricultura e na agropecuária nacionais.

* Luís Fernando Guedes Pinto, Daniella Macedo e Alessandro Rodrigues são doutores em agronomia e atuam na área de Certificação Agrícola do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora). Eduardo Augusto Girardi é também doutor em agronomia e pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura.

Resumo de artigo científico publicado na revista Citrus Research & Technology, v.34, nº1, p. 9-16, 2013. Disponível na íntegra em http://revistalaranja.centrodecitricultura.br/index.php?pag=edicoes_revista&edicaon=38.

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Este texto faz parte da série de artigos de especialistas promovida pelo Instituto Ethos com o objetivo de subsidiar e estimular as boas práticas de gestão.

Veja também:
– A promoção da igualdade racial pelas empresas, de Reinaldo Bulgarelli;
– Relacionamento com partes interessadas, de Regi Magalhães;
– Usar o poder dos negócios para resolver problemas socioambientais, de Ricardo Abramovay;
– As empresas e o combate à corrupção, de Henrique Lian;
– Incorporação dos princípios da responsabilidade social, de Vivian Smith;
– O princípio da transparência no contexto da governança corporativa, de Lélio Lauretti;
– Empresas e comunidades rumo ao futuro, de Cláudio Boechat;
– O capital natural, de Roberto Strumpf;
– Luzes da ribalta: a lenta evolução para a transparência financeira, de Ladislau Dowbor;
– Painel de stakeholders: uma abordagem de engajamento versátil e estruturada, de Antônio Carlos Carneiro de Albuquerque e Cyrille Bellier;
– Como nasce a ética?, de Leonardo Boff;
– As empresas e o desafio do combate ao trabalho escravo, de Juliana Gomes Ramalho Monteiro e Mariana de Castro Abreu;
– Equidade de gênero nas empresas: por uma economia mais inteligente e por direito, de Camila Morsch;
– PL n° 6.826/10 pode alterar cenário de combate à corrupção no Brasil, de Bruno Maeda e Carlos Ayres;
– Engajamento: o caminho para relações do trabalho sustentáveis, de Marcelo Lomelino;
– Sustentabilidade na cadeia de valor, de Cristina Fedato;
– Métodos para integrar a responsabilidade social na gestão, de Jorge Emanuel Reis Cajazeira e José Carlos Barbieri;
– Generosidade: o quarto elemento do triple bottom line, de Rogério Ruschel;
– O que mudou na sustentabilidade das empresas, de Dal Marcondes;
– Responsabilidade social empresarial e sustentabilidade para a gestão empresarial, de Fernanda Gabriela Borger;
– Os Dez Mandamentos da empresa responsável, de Rogério Ruschel;
– O RH como alavanca da estratégia sustentável, de Aileen Ionescu-Somers;
– Marcas globais avançam na gestão de resíduos sólidos, de Ricardo Abramovay;
– Inclusão e diversidade, de Reinaldo Bulgarelli;
– Da visão de risco para a de oportunidade, de Ricardo Voltolini;
– Medindo o bem-estar das pessoas, de Marina Grossi;
– A quantas andam os Objetivos do Milênio, de Regina Scharf;
– Igualdade de gênero: realidade ou miragem?, de Regina Madalozzo e Luis Cirihal;
– Interiorização do Desenvolvimento: IDH Municipal 2013, de Ladislau Dowbor;
– Racismo ambiental: derivação de um problema histórico, de Nelson Inocêncio;
Procuram-se líderes da sustentabilidade, de Marina Grossi e Marcos Bicudo;
Relato integrado: evolução da comunicação de resultados, de Álvaro Almeida;
A persistência das desigualdades raciais no mundo empresarial, de Pedro Jaime;
A agropecuária e as emissões de gases de efeito estufa, de Marina Piatto, Maurício Voivodic e Luís Fernando Guedes Pinto;
Gestão de impactos sociais nos empreendimentos: riscos e oportunidades, de Fábio Risério, Sérgio Avelar e Viviane Freitas;
Micro e pequenas empresas mais sustentáveis. É possível?, de Marcus Nakagawa;
Executivos negros e movimento antirracista no Brasil, de Pedro Jaime; e
Lixo: marchas e contramarchas de um debate fundamental, de Maurício Waldman.

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